A cirurgia pode ter um papel importante para corrigir, restaurar ou preservar a anatomia e a função do aparelho reprodutivo da mulher. Em alguns casos, a cirurgia permitirá aumentar a possibilidade de uma gravidez espontânea, melhorar o resultado das técnicas de reprodução medicamente assistida ou preservar a fertilidade em mulheres em risco de perder prematuramente a função dos ovários, nomeadamente as mulheres submetidas a quimioterapia ou radioterapia para tratamento de uma doença oncológica.
Por outro lado, as cirurgias apresentam também risco de complicações e de insucesso, pelo que a sua indicação e técnica deve ser avaliada caso a caso por equipas experientes, e ponderados os seus benefícios e riscos de acordo com a vontade e expectativa da mulher.
A avaliação do casal infértil é fundamental para a identificação das possíveis causas de infertilidade e para o estabelecimento de um correto plano de tratamento, que pode passar por medicamentos, técnicas de reprodução medicamente assistida e/ou cirurgia.
Uma técnica minimamente invasiva em que se introduz um instrumento fino pela vagina e colo do útero por forma a visualizar o interior do útero e corrigir eventuais alterações encontradas. Dependendo do contexto, pode ser realizada em regime de consultório sem necessidade de anestesia ou apenas com anestesia local, ou no bloco operatório sob anestesia geral.
Outro tipo de cirurgia minimamente invasiva que permite realizar procedimentos cirúrgicos na cavidade abdominal e pélvica através de pequenas incisões na parede abdominal, por onde se introduz uma câmara e instrumentos cirúrgicos. Em comparação com a cirurgia aberta, a laparoscopia associa-se a menor risco de complicações cirúrgicas, menor dor e mais rápida recuperação pós-operatórias. Apresenta também um melhor resultado estético, dada a pequena dimensão das cicatrizes (5-10mm).
Em alguns casos pode ser necessário realizar a intervenção cirúrgica através de uma incisão convencional no abdómen.
Os miomas uterinos são tumores benignos da parede muscular do útero e são muito frequentes na mulher em idade reprodutiva. Muitas mulheres com miomas não têm sintomas ou podem demorar vários anos a manifestá-los. Nas mulheres com sintomas, as queixas mais frequentes são menstruações abundantes e prolongadas (podendo causar anemia) e dor ou sensação de pressão pélvica.
A presença de miomas no útero pode prejudicar a capacidade reprodutiva da mulher e ser uma causa de infertilidade e de abortamento. Os miomas que distorcem o interior do útero parecem ser aqueles que têm mais impacto na fertilidade e a cirurgia para remoção destes miomas pode ser eficaz na reversão desse comprometimento. Conforme o tamanho e a localização dos miomas, a cirurgia para os remover (miomectomia) poderá ser realizada por histeroscopia, por laparoscopia ou por cirurgia aberta.
A endometriose parece causar infertilidade por diferentes mecanismos, que poderão variar conforme a localização e o estadio da doença em cada mulher. Julga-se que o ambiente inflamatório que a doença causa nos órgãos reprodutivos possa interferir com o normal desenvolvimento dos folículos, com a fertilização do ovócito e com a implantação do embrião.
Por outro lado, em estádios mais avançados, a endometriose causa uma distorção da anatomia normal dos órgãos afetados, que podem ficar deformados e aderentes entre si, o que pode comprometer o processo de ovulação e de captação do ovócito pela trompa, impedir a progressão dos espermatozoides, causar contrações uterinas disfuncionais e impedir a fertilização e o transporte do embrião.
Em mulheres com sintomas de endometriose, o tratamento cirúrgico por laparoscopia pode ser a resposta para melhorar os sintomas, restaurar a anatomia e melhorar a fertilidade. Os estudos mostram que nestas doentes a taxa de fertilidade pode duplicar após a cirurgia. Para além disso, quando a endometriose se desenvolve nos ovários sob a forma de cistos (endometriomas), pode ser necessário tratá-los por cirurgia antes de proceder a técnicas de reprodução medicamente assistida.
Algumas alterações do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) podem interferir com a fertilidade, tais como situações inflamatórias, cicatrizes ou pólipos. A histeroscopia permite o diagnóstico e o tratamento destas alterações.
As malformações do útero podem ser causa de infertilidade ou de abortamento. Algumas malformações, como os septos uterinos, podem requerer correção cirúrgica por histeroscopia.
A existência de trompas uterinas dilatadas ou obstruídas pode ser uma causa de infertilidade. Dependendo do tipo de alteração que as trompas apresentem, a laparoscopia pode ser necessária para corrigir deformações e obstruções das trompas ou por outro lado remover as trompas que estão distendidas (hidrossalpinge) uma vez que a sua presença prejudica o sucesso da fertilização in vitro.
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma condição que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva e pode causar irregularidades menstruais, excesso de hormonas masculinas e infertilidade. Em alguns casos de infertilidade em que o tratamento com medicamentos não é eficaz, o “drilling” dos ovários por laparoscopia pode ser uma alternativa. Nesta cirurgia, são realizados vários furos na superfície dos ovários, o que resulta numa diminuição dos níveis de hormonas masculinas e na retoma da ovulação cíclica. De ressaltar que o drilling ovárico não é uma técnica indicada para todas as mulheres com SOP, devendo ser ponderado caso a caso.