Como prevenir o cancro do colo do útero?

Atualmente em Portugal, são diagnosticados todos os anos cerca de 720 novos casos de cancro do colo do útero, sendo o país da Europa Ocidental com a taxa de incidência mais elevada deste tipo de cancro.

 

O cancro do colo do útero tem sempre como primeira causa uma infeção com o Vírus do Papiloma Humano (HPV). Este vírus existe há milhares de anos e infeta tanto os homens como as mulheres. É uma das infeções de transmissão sexual mais comuns a nível mundial, sendo que 75-80% dos homens e mulheres sexualmente ativos podem ser infetados, em algum momento da sua vida.

 

Até à data, existem mais de 200 tipos de HPV identificados dos quais cerca de 40 infetam, preferencialmente, o sistema anogenital: vulva, vagina, colo do útero, pénis e áreas perianais.

Cancro do colo do útero mata uma mulher por dia em Portugal

O Dr. José Maria Moutinho, ginecologista no CETI, indica-nos que só no ano de 2018, o cancro do colo do útero (CCU) teve uma incidência de 8,9 e uma mortalidade de 2,3 / 100 000 mulheres em Portugal. Isto representa cerca de 720 novos casos por ano, dos quais 390 fatais.

 

Estes números, relativamente elevados para um país desenvolvido, significam que o CCU ocupa o 7.º lugar nos cancros mais frequentes na mulher e o 2.º lugar nas mulheres entre os 15 e os 44 anos.

 

Desde há 20 anos que a incidência e a mortalidade do CCU tem vindo a baixar (em 1995, a incidência era de 18,8 e a mortalidade de 6,3/100 000 mulheres). Este declínio deve-se ao rastreio secundário que tem sido implementado nas várias regiões do país, onde, especialmente nos últimos anos, atinge um número cada vez maior da população.

Como se previne a infeção por HPV?

A prevenção do cancro do colo do útero pode ser feita de 2 maneiras: 

  1. Prevenção primária: vacinação de raparigas entre os 9-13 anos, antes do início das relações sexuais, impedindo a infeção pelos HPV’s de alto risco, seguindo as recomendações do Plano Nacional de Vacinação (PNV). Esta prevenção primária pode ser estendida, com elevada eficácia a todas as mulheres até aos 26 anos. O risco de infeção nas mulheres adultas de média idade, sexualmente ativas, continua elevado (5-15% / ano). Deste modo, sabe-se hoje que a vacinação deste grupo de mulheres apresenta uma elevada eficácia na prevenção do CCU.

  1. Prevenção secundária: rastreio, de preferência organizado, onde através do teste de HPV realizado regularmente (5 em 5 anos) são detetadas lesões displásicas (que precedem o CCU), que, uma vez convenientemente tratadas, impedem o aparecimento da doença.

A vacina contra o HPV é importante?

A infeção por HPV constitui a doença de transmissão sexual mais frequente. Esta infeção é hoje considerada pela OMS como o 2.º carcinogéneo mais importante, logo a seguir ao tabaco, sendo responsável por 5% dos cancros, 10% nos cancros na mulher e 15% dos cancros na mulher em países subdesenvolvidos.

 

A vacina inserida no PNV confere uma proteção estimada em 90% para o CCU, 95% para o cancro do ânus, 90% para o cancro da vulva dependente do HPV, 85% para o cancro da vagina e 90% para as verrugas genitais. Esta alta eficácia das vacinas, verificada nos ensaios clínicos, tem mostrado também uma elevada efetividade na prática clinica. Assim, em todos os países onde foi introduzida a vacinação, assiste-se a uma baixa acentuada das doenças relacionadas com o HPV, mesmo no grupo da população não vacinada (proteção de grupo).

O rastreio é fundamental

O rastreio permite a identificação precoce e a remoção de lesões pré-cancerosas, reduzindo a incidência e a mortalidade do cancro do colo do útero em todo o mundo.

 

Uma vez que o maior fator de risco para o desenvolvimento do cancro do colo do útero é a infeção por HPV, o diagnóstico precoce é fundamental. Através do exame Papanicolau – um exame ginecológico que serve para detetar alterações e doenças no colo do útero – pode-se detetar a existência de células anómalas, permitindo tratar-se a mulher antes das células se transformarem em cancro.

Os resultados do Papanicolau podem ser:

  • Classe I: o colo do útero está normal e saudável;
  • Classe II: presença de alterações benignas nas células, que normalmente são causadas por inflamação vaginal;
  • Classe III: inclui NIC 1, 2 ou 3 ou LSIL, o que significa que existem alterações nas células do colo do útero e o médico poderá prescrever novos exames para procurar a causa do problema, que pode ser o HPV;
  • Classe IV; NIC 3 ou HSIL, que indicam um provável início do câncer de colo de útero;
  • Classe V: presença de câncer de colo de útero.
  • Amostra insatisfatória: o material colhido não foi adequado e o exame não pode ser realizado.

 

De acordo com o resultado, o ginecologista dirá se é necessário fazer mais exames e qual o tratamento adequado.

Quando se deve fazer o exame Papanicolau?

O seu médico aconselhará a regularidade com que a mulher deve realizar o exame de Papanicolau tendo em conta o seu grau de risco e a sua condição específica. 

Quais os principais fatores de risco associados ao cancro do colo do útero?

  • o início precoce das relações sexuais;
  • o número de parceiros sexuais;
  • o tabagismo.

 

Estes fatores estão ligados ao risco de infeção por HPV de alto risco, facto necessário, embora não suficiente, ao desenvolvimento do CCU.

 

É de salientar, que em Portugal, o grupo de mulheres com maior risco de CCU, é uma mulher adulta com história de ter ou já ter tido relações sexuais e que nunca participou num programa de rastreio, quer oportunístico, quer organizado.

Quais os sintomas mais comuns neste tipo de cancro?

O CCU é um cancro com um desenvolvimento silencioso, principalmente nos estádios mais precoces da doença, altura que os métodos terapêuticos existentes são altamente eficazes. 

 

Normalmente, sobretudo em fases mais avançadas da doença, os principais sintomas são corrimento vaginal anormal e as coitorragias. Deste modo, é fundamental que as mulheres entre os 25-70 anos, que representam o maior grupo de risco, tenham um exame ginecológico regular (anual).

Como se trata o cancro do colo do útero?

Tendo em conta o estadiamento – processo pelo qual se certifica se as células do cancro se espalharam do colo do útero para outras estruturas próximas ou mais distantes – a equipa clínica avaliará o melhor tratamento a seguir.

 

As opções de tratamento podem incluir a cirurgia, o tratamento por radioterapia e a quimioterapia.

Em caso de suspeita de cancro do colo do útero, a quem me devo dirigir?

Apoiada nos seus sintomas ou num exame complementar de diagnóstico que apresente uma alteração, deve dirigir-se sempre ao seu médico ginecologista. O mesmo fará uma primeira avaliação clínica e consoante o tipo de suspeita, encaminhará o seu caso para as especialidades necessárias.