Principais causas da infertilidade masculina
O Prof. Doutor João Luís Silva Carvalho, Diretor Clínico do CETI e professor da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP), foi o autor e coordenador do estudo AFRODITE, o primeiro estudo epidemiológico sobre a infertilidade em Portugal, que concluiu que 9% dos casais são inférteis em Portugal.
O estudo, revela que 260 a 290 mil casais não conseguem ter filhos, sendo que o problema não reside apenas nas mulheres.
Segundo dados da Associação Portuguesa de Fertilidade (APF), apesar da infertilidade ser frequentemente associada às mulheres, a verdade é que a percentagem de casos de infertilidade feminina e masculina é exatamente igual, 40%.
Qual é a principal causa de infertilidade no homem?
Existem várias causas de infertilidade no homem, no entanto, e de acordo com a Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução (SPMR), as anomalias no sémen são a principal causa de infertilidade masculina. Existem também outras causas de infertilidade, como o varicocelo, as infeções no sistema reprodutor, os problemas hormonais ou os problemas genéticos.
Os principais problemas relacionados com as anomalias no sémen são:
- Diminuição do número de espermatozoides
Em condições normais um homem produz mais de 100 milhões de espermatozoides em cada ejaculação. No entanto, embora seja necessário apenas um espermatozoide para fertilizar o óvulo, a verdade é que a esmagadora maioria dos espermatozoides perde-se ou morre no trajeto. Por isso, se um homem produz menos de 20 milhões de espermatozoides no ejaculado, a sua fertilidade está significativamente reduzida e a probabilidade de que ocorra uma gravidez é bastante menor.
- Espermatozoides com mobilidade reduzida
A baixa mobilidade está muitas vezes associada à diminuição da concentração de espermatozoides. No esperma normal, pelo menos 50% dos espermatozoides devem mover-se de forma adequada. Abaixo desse limite diz-se que o homem tem astenospermia ou astenozoospermia. A mobilidade reduzida é por si mais importante do que uma redução moderada da quantidade de espermatozoides.
- Espermatozoides com configuração anormal
Considera-se normal um esperma que tem mais de 15% de espermatozoides morfologicamente normais. Se essa percentagem é menor que 15% diz-se existir teratospermia ou teratozoospermia. Os espermatozóides anormais não são fecundantes, sendo esta uma causa importante de infertilidade.
- Ausência de espermatozoides
Nalguns homens, o ejaculado não contém espermatozoides. Essa situação designa-se por azoospermia e significa que os testículos não produzem espermatozoides ou então que estão obstruídos os canis que conduzem os espermatozoides para o exterior dos testículos.
Como se diagnostica a infertilidade no homem?
O diagnóstico começa numa consulta médica, onde é aferido todo o historial clínico do homem, sendo que é tido em conta fatores como o tabagismo, o consumo de drogas ou o alcoolismo, por exemplo, e é também realizado um exame físico completo.
O principal exame para avaliar a infertilidade no homem é o espermograma, através do qual o médico avalia a quantidade e a qualidade dos espermatozoides produzidos. Este exame deve ser repetido caso os valores estejam alterados. Certas situações requerem ainda um estudo hormonal ou genético. Nos casos em que não estejam presentes espermatozoides no sémen poderá ser necessário realizar uma biópsia testicular para verificar se existe produção de espermatozoides.
Quais os principais fatores de risco que podem provocar infertilidade no homem?
- Stress: o excesso de ansiedade, muitas vezes, pode resultar na falta de libido sexual e na perda de ereção. O stress origina também uma redução da quantidade de esperma.
- Tabagismo: o tabaco reduz a motilidade dos espermatozoides e o volume das ejaculações.
- Alcoolismo: o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, origina desequilíbrios hormonais, diminui os níveis de testosterona, o que pode prejudicar a produção de esperma e está associado a um declínio significativo na qualidade do esperma.
- Consumo de drogas: o consumo de cannabis, cocaína e a heroína, por exemplo, afeta a morfologia e quantidade de espermatozoides, visto serem bastante nocivas para a fertilidade.
- Obesidade: o excesso de peso facilita o desenvolvimento de doenças crónicas, como a diabetes, que originam uma baixa qualidade e quantidade de espermatozoides, e também afeta os níveis hormonais (testosterona).
- Sedentarismo: a falta de exercício físico regular provoca efeitos adversos na saúde masculina. Uma vida sedentária afeta a qualidade e a concentração dos espermatozoides.
- Exposição a substâncias tóxicas: a exposição ocupacional a solventes orgânicos e a substâncias químicas tóxicas, comprometem a qualidade dos espermatozoides.
- Excesso de calor: a exposição excessiva ao calor tem um impacto negativo no DNA dos espermatozoides. Os testículos têm de ser mantidos entre três e quatro graus abaixo da temperatura corporal, pois o calor afeta a qualidade do sémen.
Como se trata a infertilidade masculina?
O tratamento da infertilidade no homem normalmente é feito de acordo com a causa do problema, podendo ser feito com o uso de medicamentos, inseminação artificial, cirurgia, reprodução assistida ou uma combinação de várias técnicas.
Atualmente, o leque de tratamentos é variado e os avanços na ciência permitem tratar a maioria dos casos de infertilidade. O tratamento pode incidir na correção das causas ou, quando tal não é possível, no recurso a técnicas de reprodução medicamente assistida, que permitem resolver casos que há uns anos eram de difícil resolução.