Desenvolvimento embrionário no laboratório de PMA
Após a fertilização de um ovócito maduro por um espermatozoide, os núcleos feminino e masculino passam por um processo que leva à sua fusão. Esta célula, a que agora chamamos de zigoto, representa uma entidade genética nova. Depois da fusão nuclear são iniciadas as divisões celulares que dão origem ao embrião.
Numa conceção natural, a fecundação e o desenvolvimento embrionário inicial têm lugar ainda na trompa. O embrião vai percorrendo todo o comprimento da trompa enquanto realiza as divisões celulares e mantém-se protegido por uma camada glicoproteica, designada por zona pelúcida. Este percurso demora cerca de 5 dias, até que o embrião atinge a cavidade uterina. Neste momento, o embrião tem a designação de blastocisto e já é uma entidade com alguma diferenciação celular. É neste estadio que o embrião aumenta de tamanho e consegue libertar-se da zona pelúcida, num processo designado por eclosão. O blastocisto eclodido pode fixar-se no endométrio uterino pelo processo de implantação, dando origem a uma gravidez.
O desenvolvimento embrionário após tratamento por Fertilização in vitro convencional (FIV) ou Microinjeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) é semelhante ao que ocorre numa conceção natural, mas tem lugar fora do corpo da mulher até ao momento da transferência dos embriões para a cavidade uterina.
O ambiente das trompas e da cavidade uterina promove o desenvolvimento embrionário. No laboratório do CETI, esse ambiente é mimetizado através da utilização de meios de cultura adequados que fornecem todas as substâncias necessárias a cada fase do desenvolvimento, e de incubadoras de última geração que pretendem aproximar o mais possível a atmosfera encontrada no sistema reprodutor feminino.
Durante os tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA), o desenvolvimento embrionário é monitorizado de forma a recolher informação que permita aos Embriologistas selecionar os embriões com maior potencial de implantação.
Desenvolvimento embrionário em PMA
- Dia 0 – dia da punção folicular e da inseminação dos ovócitos por FIV ou da microinjeção por ICSI
- Dia 1 – 16 a 18h após a inseminação ou microinjeção dos ovócitos, é avaliada a fertilização. Neste ponto, no caso de uma fertilização normal, são observados dois pronúcleos (um feminino e um masculino) e dois glóbulos polares. O ovócito tem agora a designação de pré-zigoto. Nas horas que se seguem, os pronúcleos irão fundir e dar origem a uma entidade genética nova, o zigoto.
- Dia 2 – as divisões celulares já foram iniciadas e embrião tem agora 4 células. Nesta fase é avaliada a presença de fragmentação (citoplasma celular excluído durante as divisões), a presença de células multinucleadas (com mais do que um núcleo), o tamanho das células e outras características morfológicas que sejam relevantes. Neste momento, diz-se que o embrião está em fase de clivagem.
- Dia 3 – as divisões celulares prosseguem e o embrião deverá ter cerca de 8 células. É também avaliado o grau de fragmentação, o tamanho das células e outras características morfológicas que sejam relevantes. O embrião continua em fase de clivagem.
- Dia 4 – o embrião iniciou o processo de compactação, durante o qual as células criam ligações muito fortes e deixa de ser possível distinguir a membrana celular de cada uma. Esta compactação deve incluir todas as células. O embrião atinge a fase de Mórula.
- Dia 5 a 6 – após a compactação, começou a ser criada uma cavidade cheia de fluído no interior do embrião, o blastocélio. Esta cavidade vai aumentando de tamanho e passa a ser possível distinguir dois tipos de células: as da periferia, designadas por Trofectoderme, e um grupo coeso de células, designado por Massa Celular Interna. O embrião atinge a fase de Blastocisto e o aumento do blastocélio define o seu grau de expansão. Nesta fase, a camada que protege o embrião (a zona pelúcida) começa a ficar menos espessa devido à expansão do embrião e pode iniciar-se o processo de eclosão. Durante a eclosão, o embrião através de movimentos de contração e expansão, provoca uma fratura na zona pelúcida. Através dessa fratura, o blastocisto poderá libertar-se e continuar o seu processo de expansão.
O processo de eclosão pode acontecer ainda durante o desenvolvimento no laboratório ou já na cavidade uterina após transferência do embrião. O embrião eclodido poderá implantar-se no endométrio.
Ferramentas de avaliação embrionária
- Avaliação convencional
Na avaliação convencional, os embriões são retirados da incubadora por um período o mais curto possível e observados ao microscópio para avaliação morfológica do seu desenvolvimento. Neste caso, o embrião é avaliado apenas uma vez por dia, para minimizar o stress de ser retirado do ambiente da incubadora, e apenas é possível registar o estadio em que se encontra naquele momento. - Time-lapse
A tecnologia de time-lapse aplicada ao laboratório de Procriação Medicamente Assistida, permite que os embriões sejam observados em intervalos regulares de tempo, sem serem retirados da incubadora. Esta tecnologia utiliza uma câmara incorporada na incubadora que tira fotografias em intervalos de tempo definidos, normalmente a cada 5 minutos, de todos os embriões e em vários planos. As fotografias são depois compiladas num vídeo time-lapse que permite ao Embriologista ver a evolução dinâmica do embrião. Esta tecnologia permite detetar eventos que a avaliação convencional não permite associada à vantagem de os embriões não serem retirados da incubadora para avaliação. - Software preditivo
Com a evolução da tecnologia de time-lapse, surgiram também softwares de avaliação dos vídeos obtidos que utilizam inteligência artificial e valores preditivos de forma a otimizar a escolha do embrião com melhor potencial de implantação. A conjugação entre a avaliação do Embriologista e a obtida pelo software, poderá permitir uma melhor seleção dos embriões a transferir.
Seleção embrionária
Cada etapa de um tratamento de Procriação Medicamente Assistida é importante para o sucesso e para atingir o principal objetivo que é uma gravidez saudável. Ainda que o sucesso do tratamento não esteja apenas nas mãos dos profissionais que acompanham os pacientes, a cada passo é necessário tomar decisões pela equipa de especialistas com vista a aumentar a probabilidade de gravidez.
Uma das etapas mais importantes é a seleção dos embriões com maior potencial de implantação que serão transferidos para o útero da paciente.
O melhor embrião ou o embrião com maior potencial de implantação é um conceito difícil de definir e está muitas vezes sujeito à subjetividade da avaliação do embriologista. Para auxiliar os profissionais nesta tarefa, foram feitos esforços para chegar a um consenso que uniformize a avaliação embrionária nos diferentes laboratórios. Nesse consenso, que contou com a contribuição de vários especialistas, foram definidos timings de observação e critérios de avaliação de pré-zigotos, embriões em fase de clivagem e blastocistos. A experiência da equipa de embriologistas é, de qualquer forma, um requisito indispensável para a melhoria da seleção embrionária.
O método de avaliação mais tradicional, baseado na avaliação morfológica pontual e diária dos embriões, fornece pouca informação aos embriologistas. Neste caso, a decisão de qual o embrião com maior potencial é apenas sustentada por essa avaliação pontual que pode não ser suficiente para detetar certos eventos no desenvolvimento embrionário que seriam importantes para a sua rejeição ou seleção.
Por esse motivo, o laboratório do CETI está equipado com incubadoras com tecnologia time-lapse (GERI e PrimoVision) que auxiliam a equipa de embriologia na tomada de decisão quanto aos melhores embriões a transferir.
Para além disso, e não menos importante do que a utilização da tecnologia mais avançada, o CETI possui uma equipa de Embriologia experiente e totalmente certificada pela European Society of Human Reproduction and Embryology (ESHRE).